A fotografia mostra os corpos de um pai e uma filha, de apenas 23 meses, abraçados na margem de um rio.
Óscar Alberto Martínez Ramírez e Angie Valeria Martínez Ávalos, de El Salvador, morreram afogados ao tentar atravessar o Rio Grande, na divisa do México com os EUA.
Na imagem, os dois estão deitados de bruços, com o rosto submerso na água – a menina está com o braço em volta do pescoço do pai, dentro da camiseta dele.
A fotografia, que gerou forte comoção mundo afora, ilustra o drama de milhares de migrantes que arriscam a vida ao cruzar a fronteira em busca do chamado “sonho americano”.
“Eu disse a ele para não ir atrás do sonho americano, que não era fácil cruzar a fronteira pelo rio”, lamentou Rosa María Ramírez, mãe de Óscar, em entrevista ao jornal ElSalvador.com.
A BBC decidiu publicar a foto nesta reportagem, mas alerta que alguns leitores podem considerar a imagem forte.
A tragédia aconteceu no mesmo momento em que os EUA e o México implementam políticas mais rígidas para conter o fluxo de imigrantes ilegais, principalmente da América Central.
Pelo menos seis pessoas morreram nos últimos dias.
Muitos migrantes dizem que estão fugindo da violência e da pobreza em Honduras, Guatemala e El Salvador, e planejam buscar asilo nos EUA.
Especialistas que criticam a política migratória do presidente americano, Donald Trump, sugerem que a abordagem linha dura está levando os migrantes a escolherem rotas mais perigosas para fazer a travessia.
De acordo com a Patrulha de Fronteira dos EUA, pelo menos 283 pessoas morreram ao tentar cruzar a divisa com o México em 2018 – mas ativistas de direitos humanos acreditam que esse número pode ser ainda maior.
Em busca do ‘sonho americano’
Óscar, de 25 anos, e a filha Angie Valeria morreram afogados no domingo (23), enquanto tentavam atravessar de Matamoros, no norte do Estado mexicano de Tamaulipas, para o Texas.
A imagem dos corpos foi registrada pela jornalista Julia Le Duc e publicada inicialmente no jornal mexicano “La Jornada”.
De acordo com a publicação, Óscar e a mulher, Tania Vanessa Ávalos, de 21 anos, decidiram deixar no início de abril a região de Altavista, no sul de San Salvador, com a ideia de migrar para os Estados Unidos.
O casal teria parentes em Dallas, no Texas, que teriam garantido que conseguiriam emprego por lá.
Sendo assim, Óscar largou o emprego na pizzaria em que trabalhava e foi com a família para o norte.
Segundo Rosa, os três passaram várias semanas no abrigo para migrantes em Tapachula, Chiapas, no sul do México, onde conseguiram um visto humanitário.
Em seguida, foram para o Estado de Tamaulipas, bem na fronteira com os EUA, e ficaram aguardando uma entrevista para pedir asilo político.
Frustrados por não conseguirem ser atendidos, decidiram atravessar o rio no último domingo.
“Eles disseram que estavam com medo de como ficaria a situação dos imigrantes com a pressão de Trump”, contou Wendy, irmã de Óscar, ao jornal “El Diario de Hoy”.
‘Ele voltou pela filha’
De acordo com o relato de Vanesa, eles foram até as margens do Rio Grande, na altura da cidade de Matamoros, com a ideia de atravessar para a cidade de Brownsville, no estado do Texas.
E procuraram um lugar calmo e tranquilo para fazer a travessia.
Óscar atravessou primeiro com a filha em seus braços. Depois de nadar um pouco, chegou à costa americana, onde deixou a menina.
Em seguida, voltou para ajudar Vanesa a cruzar o rio. Mas quando estava na metade do trajeto, percebeu que Angie Valeria havia se jogado na água atrás dele.
Ele voltou então para resgatá-la, mas ambos foram arrastados pela correnteza do rio.
Os corpos de Óscar e Angie Valeria foram encontrados na segunda-feira, no momento em que a foto foi tirada.
“O Rio Grande é muito forte. Parece um afluente suave, mas a verdade é que tem muitas correntes e redemoinhos”, disse Julia Le Duc, a fotógrafa que fez a imagem, ao jornal britânico “The Guardian”.
Fonte: G1
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